A frase “os fins justificam os meios” atribuída a Nicolau Maquiavel (1469-1527), considerado o fundador da Ciência Política moderna, descreve a Política como ela realmente é e não como deveria ser. É a chamada real politik. Por conta da interpretação feita encima de sua obra, os dicionários da língua portuguesa definem o maquiavelismo “como um sistema político baseado na astúcia (…); uma política desprovida de boa fé; procedimento astucioso; perfídia.”
Não obstante o contexto em que sua mais conhecia obra – O Príncipe – foi escrita (na Florença renascenista, com a Itália dividida em cinco reinos com guerras e traições em fim), é imporante lembrar que, sempre,em qualquer tempo, a disputa pelo poder não se dá entre santos, mas entre homens. E isso pressupõe, conforme defendeu certa vez o filósogo Eduardo Giannetti em polêmico artigo no jornal Folha de São Paulo, uma certa “zona de amoralidade”.
A questão é saber quando é ultrapassado o limite tolerado pelo senso comum. Pode o governo liberar obras para emendas propostas por parlamentares da base aliada e não dar um tostão para os da oposição? Considerando que o Governo tem recursos limitados e o jogo do poder pressupõe a formação de alianças, sim. Mas pode o parlamentar pegar o dinheiro da emenda e usar em benefício próprio? Não, claro que não.
É preciso, pois, ter limites, sempre e, na ausência falta deles, criar regras que definam regras e punições. Nesse sentido, creio que a sociedade brasileira, e a fluminense em particular, tem evoluído muito de tempos para cá.
É natural que assim seja. Estamos em plena era da Internet, da informação em tempo real e do celular que fala, filma, fotografa e grava. Os delitos são hoje identificados com muito mais facilidade que no passado. A sociedade se tornou muito mais informada e por isso mesmo cada vez mais menos tolerante aos excessos.
No Brasil, tempos atrás, era possível aceitar um político que roubava mas fazia. Graças à melhoria de nossa democracia, isso não é mais possível. Cada vez mais tendemos a aceitar a regra de que o político, devendo se aventurar na zona da amoralidade, pague quando ultrapasse os limites sociais da tolerância.
A discussão sobre ética na política, entretanto, é muito antiga, tendo origem na magistral “República” (Politeia) de Platão, há quase 2.500 anos. Dpois, veio Aristóleles, São Tomás de Aquino, passou por Dante, Machiavel, Robbes, Bacon, Rousseau, Decartes e tantos outros. Entretanto, se antes essa discussão se restringia às camadas mais esclarecidas e intectualizadas da nossa sociedade, hoje, até por conta do acesso à informação, da liberdade de imprensa, da Internet e dos meios de comunicação de massa, a ética na política é um prato presente hoje na casa de praticamente todos os cidadãos do mundo livre.
A busca de resultados a qualquer preço, exibida de forma nua e crua por Maquiavel, desconsiderou, talvez em função do contexto histórico em que vivia – quando a sociedade clamava por segurança acima de qualquer outra coisa – que a moral também é um fator social e como tal não pode se restringir ao santuário da consciência dos indivíduos. Em outras palavras, embora a moral se manifeste pelo comportamento do indivíduo, ela expressa uma exigência da sociedade. Ou seja: a política também é avaliada pelo comportamento e entendimento moral das pessoas.
Somos políticos e, como tal, queremos sobreviver. Para isso, temos que ouvir o que nos dizem as ruas, sempre, e dançar conforme a música. É isso o que move as sociedade, o que muda a história. O combate à corrupção, longe de constituir-se em um ato demagógico de sedução de segmentos sociais impregnados pela moral pequeno-burguesa, como se dizia no passado, constitui-se em um elemento fundamental para assegurar a transparência do Estado, reforçar a constituição de uma esfera pública e, por conseqüência, consolidar a democracia.