Publicado pelo jornal O Globo em 10 de fevereiro de 2021
Por André Ceciliano, deputado estadual e presidente da Alerj
O futebol mexe fundo com a emoção do povo, desperta reações apaixonadas e está, seguramente, acima da razão. Contudo, é hora de deixarmos bairrismos e/ou clubismos de lado e nos rendermos ao talento de um gênio da bola, o inigualável Pelé, para prestar uma justa, merecida e definitiva homenagem, em vida, por tudo que ele fez dentro das quatro linhas, encantando o mundo com suas mágicas jogadas. Dar ao Maracanã o nome de Edson Arantes do Nascimento – Rei Pelé é unificar e associar de vez o principal e mais emblemático templo do futebol no planeta com aquele que é considerado o maior jogador de futebol de todos os tempos, o Atleta do Século, e que temos a honra de ele ser brasileiro. É a união de dois gigantes!
O projeto de lei de minha autoria busca fazer com que Pelé receba uma homenagem do tamanho da sua importância não somente em relação ao esporte, mas para o Brasil enquanto nação – o ex-jogador sempre usou sua imagem e poder de fala para defender políticas públicas visando à melhoria das condições sociais dos mais necessitados, principalmente das crianças carentes. Ao longo de sua carreira, Pelé ajudou a divulgar positivamente a imagem do país mundo afora, com seus feitos e conquistas, em especial pela Seleção Brasileira, deixando um inestimável legado no esporte. Sua genialidade atravessou fronteiras e ele se tornou um ídolo mundial. Para usar uma palavra da moda, o craque está em outro patamar; ascendeu ao olimpo desportivo.
Trajetória, essa, que está intimamente ligada ao Maracanã. Foi no sagrado solo do estádio que Pelé marcou seu milésimo gol, no memorável dia 19 de fevereiro de 1969. Outro fato que referenda essa relação do astro da bola com o templo máximo do futebol é a performance do time do Santos jogando lá: dos nove títulos da equipe paulista conquistados no Maracanã, sete deles foram na era Pelé, incluindo um campeonato mundial de clubes (em 1963).
Portanto, a homenagem a ele se justifica também por essa simbiótica sintonia Pelé/Maracanã. E o que é mais significativo, um reconhecimento em vida, a exemplo do que já foi feito no caso do ex- Autódromo Internacional Nelson Piquet (em alusão a um grande ídolo do automobilismo brasileiro), no Rio de Janeiro, e do Estádio Rei Pelé, em Maceió (AL).
A ideia de rebatizar o Maracanã não significa substituir Mário Filho que merecidamente dá nome oficial ao estádio. Trata-se, sim, da oportunidade de realizar uma homenagem adicional. O brilhante jornalista, que foi um entusiasta do futebol, permanecerá tendo sua memória eternizada ao dar nome ao complexo esportivo, que envolve ainda o ginásio Maracanãzinho e o estádio de atletismo Célio de Barros. Afinal, é preciso preservar o reconhecimento histórico àquele que, nos anos de 1940, lutou pela construção do estádio no terreno do antigo Derby Club, no bairro do Maracanã, e defendeu que deveria ser o maior do mundo.
Precisamos, no Brasil, aprender a dar mais valor aos nossos ídolos, pondo fim ao chamado ‘complexo de vira-lata’ (o que vem de fora é sempre melhor). O Pelé é o maior atleta de todos os tempos, e é nosso! O Maracanã, com o seu nome, ganhará ainda mais visibilidade e isso será extremamente positivo para o turismo da cidade do Rio de Janeiro e também para o país. Portanto, a homenagem faz-se mais do que justa.
Como bem disse, certa vez, o sábio e saudoso poeta Carlos Drumond de Andrade, “o difícil, o extraordinário, não é fazer mil gols como Pelé. É fazer um gol como Pelé”. Vida longa ao Rei!